quarta-feira, 11 de março de 2009

Diz que é isto...

Uma atitude muito comum, principalmente entre estudantes de Medicina, é o pasmo e manifestações de alguma, vá alegria, mediante alguns casos clínicos que nos aparecem.

A verdade é que ainda somos muito verdes. E não menos verdade é o facto de estudarmos muitos dos milhentos casos apenas por livros. E quando nos aparecem coisas que já estudamos e que sabemos que são raríssimas, não conseguimos deixar de dizer: "Que espectáculo!!!", esquecendo-nos muitas vezes, que para quem está de fora esta é uma reacção absurda, principalmente quando quem ouve são os familiares. (é verdade, acontece sermos estúpidos perante as famílias)

Hoje, na enfermaria, apareceu um caso que, seguramente, nunca mais irei ver. 

Assim em traços gerais, era um doente que tinha tido um acidente grave há 20 anos e que tinha feito uma hérnia diafragmática pós-traumática à qual não quis ser operado, para "reparação". Resultado: tinha hoje, 20 anos depois, quase todo o conteúdo abdominal, principalmente ansas intestinais, dentro do tórax, no lugar que devia estar ocupado por pulmão.Ou seja, o pulmão estava colapsado e ele mal respirava.

Podem não perceber a dimensão de tal caso, mas uma coisa vos digo, que coisa mais espectacular!!! 

Mais espectacular ainda, tendo em conta a raridade da coisa. E, sim, sinto-me contente por ter visto algo tão raro. Por me poder gabar de tal proeza.

É estúpido, mas é nestas alturas que amo aquilo que faço!!! Pelo menos agora, enquanto apenas estudante.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Porque sim

Há 5 dias que comecei a contar as horas que faltavam para estar contigo outra vez.
Domingo é sempre aquele dia da montanha russa de emoções! Um dia vivido a mil à hora, na ânsia de não desperdiçar um segundo que seja. Não quero que o dia acabe, mas conto os minutos que passam para estar contigo. Mas quando chega a hora de ir, de te dizer adeus e deixar-te fugir, o coração dói. Dói como se me roubassem o melhor de mim. Levas contigo a razão do meu sorrir e contenho uma e outra lágrima, até não poder mais.
Custa-me aquele último beijo, o último abraço. Guardo o teu retrato que me vai acompanhar a semana toda. Não gosto quando entro no carro e te começo a perder de vista. Dói-me verdadeiramente o coração que começa a bater em ritmo de ausência.
Passaram os 5 dias!!! Não tão depressa quanto o desejado, mas são estas últimas horas que custam mais. As horas parecem dias e não há nada que pareça pô-las a andar mais depressa. Tento ocupar a minha mente com qualquer coisa, mas a ideia de te voltar a ver, a ansiedade de sentir o teu abraço outra vez, ocupam insistentemente a minha cabeça que não quer descansar.
Eis que chega a hora de sair e sinto uma agitação confortável. O sorriso instala-se na minha cara e sinto-me voar. Mas a tua casa parece longe e a estrada não tem fim e quando finalmente chego à tua porta, o mundo pára, tudo pára. Só o tempo é que não.
Ver-te outra vez...sentir-te outra vez... ouvir-te outra vez... beijar-te outra vez... ter-te para mim, outra vez, só para mim. Perfeito!!!!
O teu sorriso... o teu olhar doce... a tua voz... que tanta falta me fazem.
Sinto-me feliz outra vez e não sei.
Não penso, não equaciono, não questiono. Sou, vivo e sinto. Apenas sinto e a nada mais me permito.
Mas o tempo teima em correr. E o minutos que eram horas, passam a segundos contados em ritmo alucinante. O fim de semana chega ao fim. E é domingo!!! São horas de ir!!!
Já tenho saudades!!! Deixo-te para trás. O coração entristece e com ele desaparece o sorriso. Vou-me, vamos embora.
E o relógio recomeça a contagem decrescente....

quarta-feira, 4 de março de 2009

A minha primeira vítima

Era uma esponja muito engraçada. Não tinha cortes, não tinha nada. Era amarela e bonita. Sofreu de dois traumatismos com solução de continuidade por arma branca (não tão branca quanto seria de esperar porque já tinha ferrugem). 

Eu, a carniceira de serviço, fiz-lhe este trabalhinho:


O previsto é que não deixe uma grande cicatriz, mas nunca se sabe... principiantes....

terça-feira, 3 de março de 2009

....

O mais difícil de te ter longe é o saber-te menos bem e não poder fazer nada. O não poder ver-te e certificar-me com os meus próprios olhos que de facto tudo está bem (ou não) preocupa-me. Muito!!!

E a semana ainda nem a meio vai....

E depois a responsabilidade...quando apetecia tanto ser irresponsável!!! A vontade de largar tudo...só para poder estar aí....contigo....

E sexta feira nunca mais chega....

E o tempo teima em não passar....

E tu, aí, sozinho.... sem um ombro, sem um abraço, sem uma pequena grande atenção que eu sei que te aconchegava um pouquinho que fosse.

E eu, aqui, de coração nas mãos, a empurrar as horas, a tentar pô-las a mexer, pô-las a correr mais rápido...com o pensamento em ti e o coração no teu bem estar.

Sexta feira vou estar contigo e para ti... já não falta tudo!!! 

Aguentamos? É só mais um esforço....

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

só numa de coiso...




You're One Hundred Years of Solitude!

by Gabriel Garcia Marquez

Lonely and struggling, you've been around for a very long time.
Conflict has filled most of your life and torn apart nearly everyone you know. Yet there
is something majestic and even epic about your presence in the world. You love life all
the more for having seen its decimation. After all, it takes a village.



Take the Book Quiz
at the Blue Pyramid.




Take the Book Quiz
at the Blue Pyramid.

Está giro, até porque é um dos meus livros preferidos...

Só mesmo numa de actualizar...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Inacreditável!!!


Ontem fui lá e voltei a sentir o aperto no estômago. Voltei a esperar pela minha vez. Voltei a sentir uma litrada de água a descer nos meu ureteres a cada minuto e meio, a cada toque da campainha. Voltei a responder às 20 perguntas. Voltei a esperar na sala dos mortos, no meio do cheiro a tanto formol e de tantos cérebros e arcas cheias de corpos. Voltei a esperar desesperadamente por uma resposta. Voltei a ouvir o meu nome, desta vez para dizer que tinha seguido em frente.

Voltei a estar frente a frente com o Professor Bernardes. Desta vez correu melhor. Mais uma vez segui em frente.

Hoje voltei lá. Voltei a sentar-me em frente ao Professor Manuel Antunes. Voltei a responder-lhe ao que me perguntou. Mas desta vez não o deixei chumbar-me.

Só para dizer que............. Anatomia I.....................está............a modos que.............. FEITAAAAAAAAA!!!

Que alívio!!! Que sensação maravilhosa!!! Que adrenalina!!!! Que turbilhão de emoções que me faz oscilar entre ataques de choro e ataques de riso compulsivos.

Ninguém imagina o que eu sinto. Porque nunca ninguém passou por este ou semelhante sentimento. Nunca ninguém viveu estes 4 anos como eu. Ninguém viveu estes sucessivos falhanços como eu. 

Hoje sinto-me forte, sinto-me indestrutível. Porque consegui, o que consegui, quando menos esperei. Foi bom.....É bom arrumar este fantasma, este monstro a um canto. Venha quem vier, hoje sou rainha (do meu pequeno mundo)!!!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Estava mesmo a precisar disto...

Recebi ontem este e-mail e não podia ter vindo em melhor altura.

"De certeza que queres ser médico?

Não te cansa estudar mais de 8h e mesmo assim não ser o suficiente?

Não estás farto de tomar café aos litros e que nem a maquilhagem consiga esconder as tuas olheiras?

Que o teu fim de semana ideal seja terminar de rever a matéria da semana?

Não te frustra que a tua meta fique cada vez mais longe conforme as matérias se dificultam de ano para ano?

Não te entristece quando a tua família te pergunta: "Que tal o curso?"...hesitas uns segundos para dizer... VAI BEM...

Não estás cansado de chorar de impotência, por não entenderes algo ou porque te falta tempo para estudar?

Não te enfurece que não consigas alcançar aquilo a que te propões cada início de ano... dedicar-te a uma matéria, passar à primeira...ou simplesmente passar?

Não te desilude que tenhas perdido mais do que o que ganhaste desde que entraste neste curso?

Não te dá raiva que os teus amigos de outras faculdades consigam sacar 19 e 20 e tu não consigas sequer tirar um maldito 14?

As frases: "Vou desistir"; "Deixar o curso"; "Isto não é para mim!" são partes de conversas diárias?

E as urgências... Quando depois de uma tens de trabalhar e estudar e exigem-te com se estivesses fresco (quem mais trabalha 36h ou mais seguidas sem descansar?)

Todos os teus amigos podem sair para as festas que querem enquanto tu tens de estudar?

Sim?...

Isto passava-se comigo...

Sou um advogado de sucesso... não nego que o trabalho me brindou com muitas oportunidades...

Pensei que era feliz por ter mudado de curso. Pensei que era inteligente já que não é qualquer pessoa que toma esta decisão, por causa do "Que dirão os meus pais?... os meus amigos?"...

Mas dei-me conta que não. Porque ao visitar um ex-colega de curso que já era médico, que sim teve a força necessária para o ser; que suportou tudo ao que renunciei, por não acreditar que era capaz....

Será que a recompensa de todo este sofrimento no final vale a pena?

Foi então que perguntei: "O que se sente?"... E ele respondeu-me, palavras que nunca esquecerei... "Salvei a vida de centenas de pessoas, tornei-a mais fácil a tantas outras e curei feridas de milhares... foi difícil chegar até aqui... mas acredita que o voltaria a fazer se fosse necessário"

E eu pensei... Como é que este cansaço, esta frustração... como puderam fazer com que o meu sonho se desvanecesse?

Tu não te dês por vencido!!!

Acredita que escolheste o curso indicado...

Ser médico não é brincar a ser Deus... mas é brincar a ajudá-lo!!!

E Deus sabe escolher os seus ajudantes... e escolheu-te a ti!!

Só quer tornar-te mais forte e colocar-te esses pequenos obstáculos... e Ele mesmo ajudar-te-á a derrubá-los"

Longo, mas vale a pena toda e qualquer palavra.

Porque todos nós passamos por isto, pelo menos 2 épocas de exames por ano. Porque custa não encontrar respostas muitas das vezes a estas perguntas e porque acima de tudo, custa questioná-las e trazê-las conosco.

Porque se chegamos aqui, foi porque tinha de ser e por alguma inteligência ou sabedoria. 

A todos os meus colegas, porque sei que todos eles, como eu, precisam agora, mais do que nunca, de ler isto e perceber que afinal não sou só eu que sinto e vivo as coisas desta forma.

Porque é bom saber que não estamos sozinhos quando remamos contra uma maré forte.