Acho que ser médico é das coisas mais bonitas que existem (sou suspeita, eu sei). O corpo humano é qualquer coisa de tão complexa e espectacular, com manhas que só ele sabe que tem. Estudá-lo e compreendê-lo, é um privilégio que poucos têm.
Em Medicina aprende-se muito e decora-se bastante. Em Medicina vê-se muita coisa: muitas más (muito más), e tantas e tão boas.
Uma das partes mais bonitas de se ser médico, é conseguir pegar em meia dúzia de sintomas e sinais e conseguir chegar a um diagnóstico. É ter de pensar e relacionar tudo. É olhar para o doente e conseguir perceber o que pode ter. Acima de tudo, Medicina é investigar.
E, por isso, é que eu não percebo certas coisas. Como é que é possível que alguns médicos sejam tão burros, descuidados, distraídos, despreocupados, não sei, para com certos doentes.
Uma lesão neoplásica de 20cm (é muito, 20 cm é uma enormidade) não pode e não deve passar despercebida a um bom médico; a um médico, ponto!!! Especialmente quando há queixas que indicam fortemente para esse diagnóstico. Há manobras que não custam nem demoram a fazer e que podem salvar vidas.
É certo que os médicos trabalham que se desunham (alguns, a grande maioria). Também é verdade que não há ninguém que faça tantas horas de trabalho seguidas, numa azáfama constante e a puxar pelo feijão. E o Homem não é de ferro, e o feijão às vezes desliga, não pensa, lentifica. Mas é nessas alturas que pedir ajuda/opinião a um colega não custa nada, não nos rouba nenhum bocado! É assim que eu penso, pelo menos, mas isto em Medicina é tudo muito relativo porque há pessoas levadas da breca.
Mas quando as coisas estão à nossa frente e não as vemos, ou somos burros, ou não temos consciência de que nas nossas mãos está uma vida, igual à nossa, com os mesmos direitos que nós.
Se alunos do 4º ano, tenrinhos, tenrinhos, chegam ao diagnóstico com base em duas ou três queixas, como, mas como é que um médico com alguns anos de experiência deixa passar em branco não uma, não duas, mas TRÊS vezes uma coisa tão evidente que até um cego vê?!?!?!
Não percebo!!!
E estes médicos? Dormem de consciência tranquila?! Eu, concerteza, não dormiria!
Aos 50 anos, uma colostomia é o que lhe resta!!! E é nestas alturas que me custa um dia vir a ser médica. E envergonha-me pertencer a uma classe onde existem burros. Errar é humano, claro que sim. Mas a falta de respeito pela vida, principalmente a dos outros, é algo que não devia ser permitido nesta profissão, especialmente nesta.