quarta-feira, 25 de julho de 2007

Onde me revejo

"Na vida, concluiria um dia, todos têm direito a um grande amor. Uns achá-lo-iam no cruzamento perdido e com ele seguiriam até ao fim do caminho, teimosos e abnegados, até que a morte desfizesse o que a vida fizera. Outros estavam destinados a desconhecê-lo, a procurarem sem o descobrirem, a cruzarem-se numa esquina sem jamais se olharem, a ignorarem a sua perda até desaparecerem na neblina que pairava sobre o solitário trilho para onde a vida os conduzira. E havia ainda aqueles fadados para a tragédia, os amores que se encontravam e cedo percebiam que o encontro era afinal efémero, furtivo, um mero sopro na corrente do tempo, um cruel interlúdio antes da dolorosa separação, um beijo de despedida no caminho da solidão, a alma abalada pela sombria angústia de saberem que havia um outro percurso, uma outra existência, uma passagem alternativa que lhes fora para sempre vedada. Esses eram os infelizes, os dilacerados pela revolta até serem abatidos pela resignação, os que percorrem a estrada da vida vergados pela saudade do que poderia ter sido, do futuro que não existiu, do trilho que nunca percorreriam a dois. Eram esses os que estavam indelevelmente marcados pela amarga e profunda nostalgia de um amor por viver.
A vida é realmente um caldeirão de mistérios, a começar pelos mais simples, pelos mais ingénuos e inocentes, por aqueles que estão na génese da nossa existência."
in "A Filha do Capitão"
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1 comentário:

Carlos disse...

Junta-te ao club... =/ mas pode ser que um dia conseguiremos ser felizes como "sonhamos"...